quinta-feira, 21 de maio de 2015

O escritor que não escrevia


As ideias vinham a mente a todo momento, mas ele não tinha tempo para anotações. A vida era muito corrida, mas ao mesmo tempo muito monótona. "Como alguém consegue viver assim?!", ele se perguntava. E no outro dia fazia tudo sempre igual. No caminho para o trabalho, no lanche, sonhando acordado, ou a todo e qualquer momento, ele tinha "estalos", como se a ideia fosse soprada em seus ouvidos, algo como fluxo de pensamento um ser invisível. Isso ninguém nunca irá saber. A energia é oscilante dentro e fora. A cada segundo ele desistia e voltava, como num age e reage a cada passo, a cada inspiração - no sentido literal da palavra. Nada faz sentido, afinal de contas. Se fizesse sentido, porque um texto seria escrito de forma tão desordenada, alguns pontos e virgulas aqui e ali, somente para um dar um respiro ao leitor. Você dorme e acorda, corre e corre, continua sempre no mesmo lugar. Será? Vivemos em um mundo de loucos? Talvez, conversar com um papel não é lá tão inteligente assim. Falar bonito não é necessário, o importante é passar a mensagem. "Vamos escrever nossas ideias!", a voz gritava. Nossas ideias? Mas não estou somente eu aqui? Cada maluco que me aparece. Ora, se estou somente eu aqui, quem seria o leitor? Seria eu leitor de meu próprio texto. Como espectador de minha própria vida. Se não perceberam, é uma pergunta retórica, e se não perceberam, não faço a mínima diferença entre senão junto ou separado. Somente sentia falta de falar. Falta de dizer a mim mesmo o que me fazia falta. Eu gosto de escrever. Sobre como eu vejo o mundo. Otimista ou não, é o mundo que está aí para se analisar antes de mexer as peças. Comecei o jogo dizendo que era um escritor em terceiro pessoa, e entreguei os pontos depois de oito virgulas ou mais. Tanto faz. Não vou editar. Não vou ler de novo. Vai ao ar da forma como digitei. Acho que nunca fiz isso. Sou perfeccionista. Corrijo e recorrijo três vezes. Dessa vez não. Expressão não o é quando lapidada. Expressão é emoção por si só, longe de qualquer razão. O escritor continua a escrever quando mesmo já cansou de ser leitor. E é hora de parar. Descer para o mundo real, e voltar ao jogo da vida. Amanhã é o mesmo dia, ou não. Hoje foi diferente. E quem era o escritor que não escrevia?